- Na longa história da humanidade - concluiu - nenhum hidrófobo viveu para contar.
O marquês decidiu que não havia cruz, por pesada que fosse, que não estivesse disposto a carregar. De modo que a menina iria morrer em casa. O médico o premiou com um olhar que mais parecia de compaixão que de
respeito.
- Não se podia esperar menos grandeza de sua parte, senhor - disse. -E não duvido que sua alma terá a têmpera necessária para suportar tudo.
Mais uma vez insistiu em que o prognóstico não era alarmante. A ferida estava longe da área de maior risco, e ninguém lembrava que tivesse sangrado. O mais provável era que Sierva María não contraísse raiva.
- E enquanto isso? - perguntou o marquês.
- Enquanto isso - disse Abrenuncio -, toquem música, encham a casa de flores, façam cantar os passarinhos, levem-na para ver o pôr-do-sol no mar, dêem-lhe tudo o que possa fazê-la. feliz. - Despediu-se rodando o chapéu no ar e com a frase latina de rigor. Mas dessa vez traduziu-a em homenagem ao marquês: - "Não há remédio que cure o que a felicidade não cura."
Gabriel García Márquez - Do amor e outros demônios
p.s.: Sim, estou aficionada por este escritor! E engolindo seus livros =)
Gabriel Garcia Marques, mestre.
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