22 de julho de 2011

Guetos


"Para aqueles que vivem num gueto voluntário, os outros guetos são espaços ”nos quais não entrarão jamais”. Para aqueles que estão nos guetos "involuntários", a área a que estão confinados (excluídos de qualquer outro lugar) é um espaço "do qual não lhes é permitido sair".
A tendência a segregar, a excluir, que em São Paulo (a maior conurbação do Brasil, à frente do Rio de Janeiro) manifesta-se da maneira mais brutal, despudorada e sem escrúpulos, apresenta-se - mesmo que de forma atenuada - na maior parte das metrópoles.
Paradoxalmente, as cidades - que na origem foram construídas para dar segurança a todos os seus habitantes - hoje estão cada vez mais associadas ao perigo. Como diz Nan Ellin, "o fator medo [implícito na construção e reconstrução das cidades] aumentou, como demonstram o incremento dos mecanismos de tranca para automóveis; as portas blindadas e os sistemas de segurança; a popularidade das gated and secure communities para pessoas de todas as idades e faixas de renda; e a vigilância crescente dos locais públicos, para não falar dos contínuos alertas de perigo por parte dos meios de comunicação de massa". 19
As autênticas ou supostas ameaças à integridade pessoal e à propriedade privada convertem-se em questões de grande alcance cada vez que se consideram as vantagens e desvantagens de viver num determinado lugar. Elas aparecem em primeiro lugar nas estratégias de marketing imobiliário. A incerteza do futuro, a fragilidade da posição social e a insegurança da existência - que sempre e em toda parte acompanham a vida na modernidade líquida, mas têm raízes remotas e escapam ao controle dos indivíduos - tendem a convergir para objetivos mais próximos e a assumir a forma de questões referentes à segurança pessoal: situações desse tipo transformam-se facilmente em incitações à segregaçãoexclusão que levam - é inevitável - a guerras urbanas."
Confiança e medo na cidade (pg40-1) - Zygmunt Bauman

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