24 de novembro de 2010

Escuridão

– Aslam, Aslam, se é verdade que alguma vez nos amou, ajude-nos agora.
A escuridão não diminuiu, mas Lúcia começou a sentir-se um pouquinho melhor. “Apesar de tudo, ainda não nos aconteceu nada”, pensou.
– Olhem! – gritou da proa a voz de Rinelfo.
Havia uma tênue luz na frente. Enquanto olhavam, caiu sobre o navio um largo facho de luz, proveniente daquele lugar. Não alterou a escuridão que os rodeava, mas todo o navio ficou iluminado como por um holofote.
Caspian pestanejou, olhou em torno e viu os rostos tensos e ansiosos dos companheiros. Olhavam todos na mesma direção, e detrás de cada um projetava-se sua sombra escura e irregular. Lúcia viu alguma coisa no facho de luz. Primeiro parecia uma cruz, depois um avião, depois um papagaio e, finalmente, quando passou sobre suas cabeças, ruflando as asas, viram que era um albatroz. Deu três voltas em torno do mastro e depois pousou um instante no dragão dourado da proa.
Numa voz alta, forte e doce, pronunciou algumas palavras, que ninguém entendeu. Abriu as asas de novo e recomeçou a voar lentamente à frente do navio. Drinian seguiu a ave, vendo nela um bom guia.
Só Lúcia soube que ao revolutear em torno do mastro o albatroz murmurara: “Coragem, querida!”. Era a voz de Aslam, e o seu hálito suave roçou-lhe a face.
Dali a momentos, a escuridão dera lugar, lá adiante, a um nevoeiro acinzentado e, logo depois, antes mesmo que começassem a ter esperança, surgiram à luz do sol e sentiram novamente o mundo cálido e azul. Compreenderam então que já não tinham nada a temer e que nunca haviam corrido perigo real. A claridade fazia-os pestane-jar. Olhavam admirados. O brilho do navio aturdia-os. Tinham chegado a pensar que a escuridão aderiria aos brancos, dourados e verdes do navio, sob a forma de espuma suja. Primeiro um, depois outro, todos desataram a rir.
– Bancamos os tolos – disse Rinelfo.
A viagem do Peregrino da Alvorada C.S. Lewis (pg 487-8 do volume único)

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