22 de novembro de 2010

– Estive sempre aqui.


À porta estava o próprio Aslam, o Leão, o Supremo Rei de todos os Grandes Reis. Concreto, real e quente, deixando que ela o beijasse e se escondesse na sua juba fulgurante. Pelo som cavo e trovejante que ele emitia, Lúcia ousou pensar que ronronava.
– Que bom ter vindo, Aslam!
– Estive sempre aqui. Mas você acabou me tornando visível.
– Aslam! – exclamou Lúcia, quase com reprovação. – Não brinque comigo! Como se eu fosse capaz de fazê-lo visível!
– Pois fez. Acha que eu não obedeço às minhas próprias leis? – Depois de pequena pausa falou de novo: — Minha criança, acho que você anda escutando atrás das portas.
– Escutando atrás das portas?
– Ouviu o que as suas colegas disseram de você.
– Ah, isso? Não pensei que fosse a mesma coisa que escutar atrás das portas. Não era magia?
– Espiar as outras pessoas por meio de magia é o mesmo que espreitá-las pelo buraco da fechadura. Você julgou mal a sua amiga. Ela é fraca, mas gosta de você. Tinha medo da outra mais velha e a acatou dizendo o que não queria.
– Acho que não esqueço mais o que ouvi.
– Pois é.
– Oh, não! – exclamou Lúcia. – Acabei com tudo? Quer dizer que poderíamos ter continuado amigas, e talvez pela vida toda! E agora acabou!
– Minha filha, já não lhe expliquei uma vez que ninguém sabe o que teria acontecido?
– Sim, Aslam, explicou. Por favor, me desculpe... Mas...
– Pode falar.
– Poderei ler aquela história outra vez, aquela de que não me lembro? Conte a história para mim, Aslam! Conte, conte.
– Conto, sim. Levarei anos a contá-la. Vamos agora. Temos de encontrar o dono da casa.
A viagem do Peregrino da Alvorada C.S. Lewis (pg 474-5 do vol único)

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